Quanta tempo passou desde que nasci,
vinte e poucos talvez,
cansado de tudo isso,
perdido em tudo isso.
Tenho acordado no mesmo horário sempre,
desde que pude carregar minha primeira caixa,
desde que pude beber meu primeiro gole,
desde que passei fome,
desde que vi que eu não era livre.
Me matei aos poucos pra entrar por uma porta,
dei meus dias de vida por papel,
por um prato de comida,
e nenhum sorriso de volta.
Vi na TV o progresso do país,
vi o quanto somos felizes,
vi o quanto somos bondosos.
Mas eu não entendo o porque,
de eu ser deste país,
e não rir daquela maneira,
de não receber a aquela bondade,
de não ser afetado pelo progresso que tanto falam.
Quanto amor pregado pelo mundo as minhas custas,
quanto vazio propagado nesta terra,
quantas vidas perdidas nessa guerra sem fim
quantas palavras,
palavras,
palavras,
palavras,
palavras,
palavras que não dizem nada.